segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Fragmentos___içami tiba

Propaganda enganosa, mas hormonalmente verdadeira!

(...)
Foram se descobrindo e notando que tudo era ainda melhor do que no primeiro encontro. Vieram o toque, o abraço e o beijo, que marcou um novo e inconfundível momento de entrega mútua. Ele jamais colocara tanto amor num beijo, e ela percebeu quanto era desejada. A polvo o recebia dentro de sua boca, mas também já queria recebê-lo por inteiro. O cobra começava a estar dentro dela e queria cada vez mais conquistar aquele território.

O que o cobra mais desejava era ter sexo com ela, fazê-la chegar ao orgasmo nunca antes atingido, torná-la sua para sempre. A expressão máxima do amor do cobra é possuir a sua fêmea.

O que a polvo mais queria era sentir-se amada e desejada por ele, pertencer-lhe para todo o sempre. A expressão máxima do amor da polvo é cuidar do seu homem e dar-lhe muitos filhos.

Mas o cobra sabe que, para possuir a fêmea, deve cuidar dela e protegê-la, impedindo que outros cobras se aproximem. Ele tem de colocá-la em seu território, sob seu absoluto controle - ainda que deseje espalhar seus genes além do seu território, em fortuitos encontros com outras fêmeas.
A polvo se excita só de sentir quanto é desejada pelo cobra. A expressão do seu amor é ter o homem sempre consigo, nos seus braços, nutri-lo, agasalhá-lo, acariciá-lo, beijá-lo e dizer muitas e muitas vezes quanto o ama.

O casamento se torna inevitável, determinando uma mudança radical para o cobra. (...) A polvo também se transforma. Manter o território em ordem passa a ser sua maior preocupação, atitude que exige também do cobra. E ele, que jamais pensou nessas coisas, tem de colaborar com a ordem, a higiene e até com a beleza de seu território.

O que talvez o cobra nem suspeite é que tudo está escrito nos seus cromossomos, na sua genética. (...) nada lhe garante que a fêmea perpetuará seus genes, daí a necessidade biológica de mantê-la sob seu poder. Já para a fêmea, a descendência está assegurada mesmo que ela tenha filhos de vários pais. Para atrair o macho, ela precisa ter quadris largos que agasalhem bem a gravidez, seios fartos para alimentar os filhos dele e beleza, gerando belos machos que, por sua vez, atrairão suas fêmeas.

Mas, como a natureza deu ao homem o instinto da autopreservação, ele primeiro satisfaz as próprias necessidades e desejos para depois pensar na perpetuação da espécie. Primeiro o sexo, depois a paternidade. O que o cobra não sabe é que ele, que se sente tão conquistador, foi na verdade atraído pela fêmea no cio.

Quanto à polvo, talvez não imagine quanto ela se torna sexualmente atraente pela inundação do estrogênio, o hormônio que a leva para o cio. Sua pele fica mais sedosa, seus cabelos mais exuberantes, seus lábios mais carnudos. Ela escolhe trajes minúsculos, berrantes e ousados, que cobrem o mínimo possível de sua pele. Seus movimentos se tornam ondulantes, seus seios ficam mais cheios e pulam para fora de tudo o que é usado para controlá-los. Até sua voz fica mais sedutora – tudo determinado pelos cromossomos, para demonstrar como ela pode agasalhar bem os genes de um macho. E eles que se cuidem, pois são escolhidos conforme sua capacidade de prover e proteger bem as fêmeas e seus filhos, garantindo sua sobrevivência. Portanto, é preciso ter ombros largos, músculos fortes, boas mandíbulas, ar inteligente, olhar esperto e competitivo, até mesmo mostrar-se agressivo para se sobressair dos demais machos.

Mesmo que, após o cio, o óvulo não tenha sido fecundado (...) a mulher entra na fase da progesterona. É o preparo para a maternidade, que a torna menos receptiva ao macho. Quanto mais aumenta o nível de progesterona, mais as roupas cobrem o corpo e menos a fêmea permite a aproximação do sexo oposto. Ela fica avessa aos machos e pode tornar-se irritada, agressiva, depressiva e inchada. Dorme de costas para o companheiro - e ele, caso tente se aproximar, pode até levar um coice...

O cobra não tem o hormônio da paternidade, só o do reprodutor. Ele não entende nada do que está acontecendo. Dias atrás, ela até pulava em cima dele. Agora, sem que nada tenha acontecido, ela o rejeita.

No seu raciocínio de causa-efeito, ele logo conclui: ela só pode estar tendo um caso!

(...)Os cromossomos determinam a vida sexual de todos os animais, inclusive a dos seres humanos. Talvez a única diferença fundamental seja o "como somos" da espécie humana, que nos dá a racionalidade e, conseqüentemente, a inteligência, a criatividade e motivações muito diferentes das simplesmente biológicas. Assim, o "como somos" criou o amor, a espiritualização e a educação, transformando o simples ritual biológico do instinto sexual numa história de amor única e verdadeira para cada casal de amantes.

A propaganda enganosa fica por conta dos cromossomos, que continuam determinando novas atrações - que, por sua vez, o "como somos" teima em chamar de paixões, romances, idílios, galanteios, sonhos, devaneios...

O homem-cobra jura eterna fidelidade, enquanto seu instinto sexual o instiga a espalhar genes pelo mundo agora. A mulher-polvo promete" dar filhos ao seu homem", mas dificilmente os entrega...
(Içami Tiba in:Homem Cobra, Mulher Polvo)

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