quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

E Agora José ?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

.........................................................Está sem mulher,
.........................................................está sem discurso,
.........................................................está sem carinho,
.........................................................já não pode beber,
.........................................................já não pode fumar,
.........................................................cuspir já não pode
.........................................................a noite esfriou,
.........................................................o dia não veio,
.........................................................o bonde não veio,
.........................................................o riso não veio
.........................................................não veio a utopia
.........................................................e tudo acabou
.........................................................e tudo fugiu
.........................................................e tudo mofou,
.........................................................e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

.........................................................Se você gritasse,
.........................................................se você gemesse,
.........................................................se você tocasse
.........................................................a valsa vienense,
.........................................................se você dormisse,
.........................................................se você cansasse,
.........................................................se você morresse...
.........................................................Mas você não morre,
.........................................................você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

.......................................(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

....aprendendo... disse...

E AGORA !!!! QUE FAÇO EU DA VIDA SEM VC ???!!!!!!

Anônimo disse...

Entende-se por lavra o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração das substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas.