sábado, 20 de setembro de 2008

DIGNIDADE

"Fui exposta e vendida pela internet"
do Hoje Maringá

Um drama que já dura quase três anos. Essa é a rotina que a jornalista maringaense Rose Leonel, 38 anos, vem sofrendo para reparar o que ela chama de “grande injustiça”. Ela é uma das maiores vítimas de crime cibernético no Brasil em um caso que já ganhou repercussão internacional e está na Justiça.

Tudo começou com o fim de um relacionamento com um empresário que durou quase quatro anos e que ela decidiu terminar em setembro de 2005. A vítima alega que o ex-companheiro não aceitou o fim do relacionamento, tentou reatar e a ameaçou que acabaria com a vida dela caso contrário.

Leonel lembra que eles seguiram se falando por mais um mês ainda e, logo em seguida, fotos eróticas e pornográficas – inclusive com outras pessoas - com imagens de Rose Leonel passaram a ser divulgadas por mailing na cidade, se espalharam por sites ganhando repercussão no país e voltavam a ser enviadas de tempos em tempos.

“Só quero que ele reconheça o que fez, assuma. Ele não só me expôs, como me vendeu pela internet”, declarou Leonel. “Sou vítima de um crime porque não sou eu em 70% das imagens e não faço esse tipo de coisa”.

A indignação da vítima se deve ao fato de que as imagens tinham números de telefone e e-mail da jornalista e referências às empresas onde ela trabalhava, além de indicar que ela seria garota de programa. A situação revirou a vida de Rose Leonel que passou a viver reclusa, com insegurança, tendo contato com poucas pessoas como familiares e amigos mais próximos.

Além de fazer com que ela fosse demitida de onde trabalhava e precisou focar seu trabalho em programa independente de televisão, onde também teve dificuldades até de fechar contratos publicitários pela repercussão do caso das fotos.

Ela também passou a receber propostas de teor sexual por e-mail e telefone.

A vítima não nega que tenha feito fotos íntimas com o companheiro durante o relacionamento, em uma confiança amorosa. Mas, ela garante que a maioria das imagens divulgadas seria montagem feita por um técnico em informática contratado pelo acusado e ex-companheiro e que também é alvo de ações judiciais.

(...)

Apesar de todo o sofrimento, Rose Leonel se mostra forte e não tem receio em falar sobre seu drama. Até foi em rede nacional em julho passado nos programas Super Pop, da Rede TV, e no Pânico, na Rádio Jovem Pan, onde reviveu sua história.

Como o caso não se resolvia pela Justiça e as fotos continuavam a ser divulgadas, ela decidiu dar essas entrevistas para que conseguisse contato com algum especialista que a ajudasse. E foi o que aconteceu. Um perito em segurança digital está trabalhando no caso há dois meses. E também já houve apreensão pela Justiça de computadores dos suspeitos e estão em andamento duas ações contra duas pessoas físicas e uma jurídica.

Ela nega sem hesitar que estaria dando publicidade à divulgação das fotos para poder fazer um ensaio sensual para alguma revista masculina e confirma que já recebeu contatos, mas recusou.

“Nem por dinheiro nenhum”, afirmou e ainda citou que nem sabe o que vai fazer caso ganhe na Justiça algum valor de indenização em novas ações judiciais.

Rose Leonel tem dois filhos (um menino de 14 anos e uma menina de 11 anos), é formada em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (em 1994) e em Comunicação Social pela Faculdades Maringá (em 2005) e conseguiu se estabilizar profissionalmente em meio ao drama trabalhando bastante com o programa de variedades “Bom Demais”, onde entrevista pessoas de diferentes setores maringaenses.

Ela também cursa pósgraduação em Comunicação e Educação, está terminando um livro com crônicas e poesias sobre seu polêmico caso, planeja fazer um terceiro curso de graduação e montar uma Organização Não-Governamental (ONG) para ajudar outras mulheres que passaram por uma situação semelhante.

“Esse tipo de crime na internet é como se fosse um crime hediondo também, é como se a mulher fosse violentada”, comparou Leonel que pretende alertar às mais jovens para terem cuidado nos relacionamentos e evitarem deixar que os namorados fotografem a intimidade do casal. “A mulher é sempre mais emotiva que o homem, mas não se pode confiar”.

Quanto ao acusado da iniciativa de enviar as fotos pela internet, ela fala com serenidade que já o perdoou e foca sua vida em dar melhores condições aos filhos.

“Todo mundo tem mãe, tia, alguma mulher na família e isso poderia acontecer em qualquer família. Quero que as pessoas me vejam como mãe de família, pois eu vivo do meu trabalho honestamente”, comentou sobre o preconceito e discriminação que sofre até hoje, já que pessoas a julgam somente pelas fotos divulgadas sem saber todos os fatos.

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