quarta-feira, 26 de maio de 2010

O luto é um processo, não um evento

É um processo mental, é uma reação normal a uma perda significativa de uma pessoa amada. O luto é um sentimento de pesar e tem diferentes formas de expressão nas diversas culturas. Como Maria Helena Pereira Franco coloca, “falar de luto é falar de nossas possibilidades de fazer, desfazer e refazer laços”.

O luto não é vivido e resolvido num único dia. Para Freud(1916), o luto é um processo longo e doloroso, que acaba por resolver-se por si só, quando o enlutado encontra objetos de substituição para o que foi perdido. Mannoni (1995) coloca que o processo de luto consiste no desinvestimento de afeto a um objeto e que esse processo se torna mais difícil à medida que parte de si mesmo se vê perdida no objeto. Ou seja, quando a pessoa se perde no outro. Funde a própria personalidade ao objeto amado, não se distingue do outro.

Apesar de não podermos ser rígidos com o que se deva ser experimentado no luto, Kaplan (1977) expõem fases do processo de enlutamento. Freqüentemente o luto inicial manifesta-se por um estado de choque, topor ou atordoamento, mesmo que temporário. Depois o processo passa a ser de rememoração de cenas agradáveis e desagradáveis. Todo esse processo pode ser acompanhado com graus variáveis de desinteresse pelo mundo exterior e com tristeza, que vão diminuindo conforme o processo avança. No final, a pessoa perdida passa a ser apenas uma lembrança, o sentimento de tristeza desaparece e a vida afetiva retoma seu curso voltando a ser possível novas ligações afetivas.

Além destes sentimentos, podemos encontrar sentimentos desorganizadores e assustadores como o choque, a raiva, a hostilidade, a solidão, a agitação, a ansiedade, a fadiga. Sensações físicas como vazio no estômago e aperto no peito podem ocorrer ou não. Pensando a respeito da família, o luto pode provocar uma crise na mesma, pois exige a tarefa de renúncia, de excluir e incluir novos papéis na cena familiar. Contudo isso não segue uma regra fixa, como já fora colocado, pois algumas crenças sobre o luto podem afetar profundamente esse processo que é individual, pessoal e única.
Para cada enlutado, sua perda é a pior, a mais difícil. Só a própria pessoa que pode dimensionar sua dor e seus recursos para enfrentá-la. Assim, o tempo e ador do enlutado vai depender dos recursos que ele possui para enfrentar a perda e as necessidades que podem se apresentar.

Tanto para Freud como para Melanie Klein uma das formas da pessoa liberar-se do luto é tendo a prova da realidade. Dessa forma, “existe um período considerado necessário para a pessoa enlutada passar pela experiência da perda. Esse período não pode ser artificialmente prolongado ou reduzido, uma vez que o luto demanda tempo e energia para ser elaborado.” Mascará-lo ou fugir do luto pode causar ansiedade, confusão e depressão. “Costuma-se considerar que o primeiro ano é importantíssimo para que a pessoa enlutada possa passar, pela primeira vez, por experiências e datas significativas, sem a pessoa que morreu.” (Kaplan 1997).

Viver o luto não significa apenas passar por ele, mas crescer aprendendo a conviver com a dor da saudade (não dependência), renovando as energias, nos enriquecendo-nos com um propósito melhor para nós e para o mundo. “Alem de entender na mente vai entender no coração que a pessoa não está mais entre nós. E apesar de nunca ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida.”

Alguns rituais ajudam na elaboração dessa perda como o ritual fúnebre de velar e enterrar. O uso de determinadas cores nas roupas para demonstrar os sentimentos de pêsames.

“A perda é para sempre, o luto não.”

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