sexta-feira, 27 de abril de 2012

Xingú


Acabei de assistir Xingú. Confesso que esperava que fosse bem melhor, mas temia que fosse bem pior, então não posso reclamar. As interpretações estão excepcionais, as locações são fantásticas. Talvez o viés escolhido pelo diretor não tenha sido muito feliz. 

De qualquer maneira, acho importante que a história do Brasil comece a ser contada no cinema, com qualidade técnica e cênica. 

No início do século 20, uma vasta área do Brasil era completamente desconhecida do governo. Nesse contexto, o governo criou a chamada Marcha Para o Oeste, incentivando brasileiros a desbravar o interior do País. No grupo, estavam os três irmãos Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e Leonardo Villas-Bôas (1918-1961), que não só ajudaram nesse desbravamento, como também descobriram tribos indígenas que nunca haviam tido contato com os homens brancos. Assim, entre os feitos dos irmãos, está a criação do Parque Indígena do Xingu (do tamanho da Bélgica), que completou 50 anos no ano passado.

A saga desses irmãos é contada no filme "Xingu", baseado no livro Marcha Para o Oeste (1994), de Cláudio e Orlando Villas-Bôas e tem no elenco Felipe Camargo (Orlando), João Miguel (Cláudio) e Caio Blat (Leonardo). 

O longa teve um orçamento de R$ 14 milhões e será distribuído em 250 salas. Esse investimento é justificado pelas belíssimas locações feitas no Tocantins, Pará e Mato Grosso - Estado este onde está o Parque do Xingu, na porção sul da Amazônia brasileira. "Graças à preservação do parque, aquela região ainda mantém mata nativa", diz Caio Blat.

Por causa do trabalho de proteção dos índios, os Villas-Bôas, representados por Orlando e Cláudio (Leonardo já havia morrido), chegaram a ser indicados ao Prêmio Nobel da Paz em 1971. O roteiro aborda os 40 anos de atuação dos irmãos no Xingu, resumidos em 104 minutos de projeção, desde o engajamento deles na Marcha até se tornarem líderes das expedições e encarregados pelo exército no contato com os índios.

Toda essa aventura é mostrada com suas contradições e acertos. Por exemplo, quando os irmãos levaram a gripe para uma tribo, dizimando metade da população local. Daí, eles passaram a ter acompanhamento de médicos que vacinavam os índios. Ou quando Leonardo engravidou uma índia, e foi repreendido pelos irmãos e forçado a abandonar a expedição. O longa mostra ainda a antagônica relação deles com os governos civil e, depois, militar. Em comum, entre os dois governos, apenas a sede expansionista. Por ali, os únicos preocupados com a preservação parecia ser os irmãos, enquanto o governo queria devastar a floresta para criar gado e lavouras.

Ao todo, os Villas-Bôas abriram 1,5 mil quilômetros de picadas, percorreram mil quilômetros de rios, construíram 19 campos de pousos, ajudaram a fundar 43 vilas e contactaram 14 tribos.


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