domingo, 20 de maio de 2012

Minhas impressões sobre a Parada Gay de Máringa





De maneira pacífica e ordeira, 
as cores do movimento LGBT 
foram 'colorindo' lentamente 
a região central de Maringá.








O que dizer da Parada LGBT de Maringá. Eu temia não viver o bastante para testemunhar esse tipo de manifestação aqui  na provinciana Má-ringa, tão preconceituosa, heteronormativa e conservadora. Me enganei.

Temia também que houvesse algum tipo de conflito, com grupos religiosos ou pessoas gratuitamente homofobicas, mas tudo correu na mais perfeita ordem.

Drags exuberantes tirando fotos com pais e mães e crianças. Famílias inteiras (algumas mantendo uma certa distância). Casais de moças, casais de rapazes, todos bem jovens, abraçados. Demonstrações publicas de afeto, uns tiozinhos de mãos dadas, umas coroas também, tudo sem incidentes.

Algumas pessoas tão insuspeitas. Passa por mim um tiozinho bem vestido, de mão-dada com uma perua magrela, e eu fico pensando: Será que é !?

O número de curiosos é equivalente ao de efetivos participantes. Mas não chegou aos 8.000 noticiados pela imprensa. Se na Parada tinha 5.000 então na Marcha tinha 10.000.



"O colorido das bandeiras e as 'fantasias' irreverentes de alguns participantes 
atraíram inúmeros curiosos. Enquanto uns preferiram acompanhar 
a movimentação a distância, outros se misturaram a multidão como o casal 
Margareth, 51 anos, e Jair da Silva, 55 anos. 
"Estou super feliz em participar da Parada Gay, sempre tive vontade 
de ir a um evento assim, mas ainda não tinha tido oportunidade. 
Eu e toda minha família temos inúmeros amigos homossexuais, 
que frequentam a nossa casa e são pessoas maravilhosas. 
Eu diria que alguns deles são até melhores do que 
muitas pessoas ditas 'normais'. O preconceito precisa acabar", 
defendeu Margareth." 



Mas acho natural que haja mais ovelhas na Marcha para Jesus. Primeiro porque há mais evangélicos do que gays. Segundo que a própria ideologia do cristianismo estimula o crente a manifestar publicamente sua opção por Jesus Cristo. Só se é crente à partir do momento em que se declara isso, o que é conhecido como “profissão de fé”. Os conflitos, interno e externo, são muito menores quando se trata de sair do armário religioso. A sociedade acolhe, a família não da muita importância, é tudo bem tranquilo.  

No caso do armário da sexualidade, o problema fica bem mais complicado. Não bastasse o drama do conflito consigo mesmo, de se aceitar como homossexual, ainda há depois esse desabrochar, primeiro a família, depois escola, trabalho, e finalmente o mundo. Acho que o grande desafio para as lideranças LGBT é convencer os gays a saírem do armário.



"Fabiana soube do evento através de amigos homossexuais e, 
curiosa, resolveu ir a Parada Gay acompanhada do marido 
e das filhas gêmeas Jéssica e Ana, de cinco anos. 
"Estou gostando da festa e não vejo problema 
das minhas filhas estarem aqui. 
Elas precisam aprender a respeitar 
a diversidade desde cedo", disse."



Algumas sapas são lindas. Sei que as militantes detestam esse tipo de afirmação, mas meu coração hetero acha um desperdício (que deselegante).

O clima é, evidentemente, bem lascivo. Beijos e pegações que, ainda que fossem entre heterossexuais, deixariam qualquer frade corado. 

Mas ao ver esse povo fora dos guetos, algumas perguntas ficaram na minha cabeça: Onde essa gurizada alegre e colorida fica “escondida” nos outros 364 dias do ano ? Como esses meninos conseguem disfarçar seus “trejeitos” no dia-a-dia ? Como é isso na escola (eles estudam) ? Como é isso no trabalho ? 

Mas enfim... foi emocionante. Que hajam mais eventos desse tipo. Sem-terra, Sem-teto, Sem-namorada (tô nessa)...

Mas nem tudo são flores. Voltando pra casa, passam por mim dois menininhos, de uns 5 ou 6 anos. O gordinho dá um tapa nas costas do magrelo e diz: Vai lá no meio, você é um!!! E o magrelo, se esquivando, responde; Eu não, vai você! Os pais, que vinham atrás, riem. E assim a heteronormatividade e a homofobia vão se perpetuando, geração após geração.



Um comentário:

Ismael Avelino disse...

PARABÉNS PELO TEXTO, PELO PONTO DE VISTA APRESENTADO SEM A INFLUENCIA DA MIDIA. ENFIM, APESAR DE TUDO NÃO PODEMOS DESANIMAR, UM EVENTO DESSE TIPO JÁ É UMA AVANÇO NA LUTA PELOS DIREITOS LGBT. FUTURAMENTE ESSA ABERTURA SERÁ AINDA MAIOR GRAÇAS A QUEM ESTA LUTANDO DESDE HOJE!