domingo, 9 de setembro de 2007

PLUG AND PLAY ou CADA UM COM SEUS POBREMA

Fazendo um balanço do que ficou de aprendizado de tudo o que passou, acho que alguns processos, depois de disparados, não tem mais volta. Você entra em um processo de revisão sem fim, de reciclagem e reconstrução,e as coisas jamais serão como antes. Como um vaso quebrado que se cola mas não fica igual ou como o jogador que, depois de uma fratura, fica com medo e dar uma entrada mais forte em outro jogador. Ficamos sem confiança e achamos que a coisa toda vai ruir a qualquer momento. Qualquer lance mais forte nos remete ao trauma, ao susto frio, à dor solitária, ao gesso imobilizador, à fisioterapia imprevisível. Processo difícil, necessário e inevitável.

Sigo pensando que, para algumas pessoas, as coisas são mais fáceis. Pra mim essas coisa do mundo são meio complicadas...talvez se eu tivesse nascido em outro tempo/lugar em vez desse tão filho-da-puta. Que merda. Antigamente você precisava de um programa para instalar um hardware no computador, você comprava uma impressora ou scanner e vinha um disquete ou CD com o drive de instalação e tal, hoje em dia esses periféricos são todos plug and play, é só ligar no computador que eles se entendem. O foda é que o mundo é plug and play. Parece que todo mundo sabe exatamente o que fazer e como reagir. Eu não sou plug and play, preciso de um drive, mas não existem mais.

Ainda analogamente os computadores e periféricos são cada vez mais descartáveis, assim como os nossos relacionamentos. Ninguém vale mais nada. Tudo o que se vive, histórias, momentos, risos, girafas e afins, tudo fica em segundo plano no jogo onde o eu vale muito mais que o nós. Hoje saímos com um casal de amigos com quem não saímos a algum tempo. Ele tava cantarolando uma musica do Peninha imortalizada na voz do Caetano Veloso: “Quando a canção se fez mais clara e mais sentida, quando a poesia realmente fez folia em minha vida, você veio me falar dessa paixão inesperada por outra pessoa.” E quando essa outra pessoa é a própria pessoa. Não vou ficar no lugar comum de criticar o consumismo e o descartismo, mas penso que, num mundo onde tanta gente sofre das desgraças das mais variadas, a felicidade só é possível à luz da ignorância, da alienação e do egoísmo. Como alguém pode estar confortavelmente feliz sabendo que trilhardões de pessoas estão vivendo sua curta passagem de vida na terra sem o mínimo de dignidade e, pior, que mundo é esse em que alguém, pra ser feliz, joga o resto do mundo na dor. Foda-se o outro. É a lei do Cada Um Com Seus Pobrema. Que bosta.

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