Antes da Grande Tragédia, eu aceitava a simples presença da pessoa amada ao meu lado como suficiente para a minha felicidade. Eu realmente era feliz, e muito, porque tinha ela ao meu lado, independente da condição, estivesse ela feliz ou triste, realizada ou não. A simples presença dela me bastava, me preenchia, me completava, me realizava. Hoje eu olho pra trás e acho isso loucura. Esse modelo de felicidade não me serve mais.
Respondendo no hoje, minha felicidade não se resume mais em simplesmente ter a mulher que amo ao meu lado. Não tenho a pretensão de fazer ninguém feliz, não se trata disso, mas hoje tenho certeza que minha busca pela felicidade passa pela satisfação de colaborar para a realização pessoal de alguém que é especial pra mim. Falo de poder dar condições para que a pessoa que amo se realize como pessoa, esposa, mãe, filha, professora, etc.
Felicidade pra mim então seria olhar nos olhos da pessoa que amo, enxergar felicidade dentro da sua alma e saber que, na medida do possível, faço parte dessa realização.
Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe pareceram
como poucos dias, pelo muito que a amava.
Gênesis 29:20
Nós podemos encontrar na Bíblia o exemplo de Jacó, que por 14 anos trabalhou por Raquel, pois muito a amava. Ele poderia ter aceitado a escolha de Labão oferecendo-lhe Lia, a filha mais velha, e por que não? Não é assim que vemos o que muito acontece hoje em dia? Aí vai a minha sinceridade: acho extremamente errado o que as pessoas fazem, querendo ser “cupidos”. Eu não aceito proposta de ninguém, acho que em Gênesis fica claro que devemos lutar pela pessoa certa, e não sair se conformando e aceitando o que todo mundo propõe. Jacó não olhou para o tempo que levaria para ter Raquel, não se preocupou porque teria que trabalhar mais sete anos, mas não deixou de lutar.
Lutar é uma coisa completamente diferente de se preocupar, pois quando eu creio que a minha vida está nas mãos de Deus, então eu confio que Deus tem o controle de tudo, não me preocupo o tempo que vai levar, apenas creio que Deus se encarregará de cumprir o que Ele mesmo colocou dentro de mim.
Se a pessoa ouve a voz de Deus e não deixa se levar pelas emoções, ela vai sempre saber qual será a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, não há como se enganar pois o que prevalece é a vontade de Deus.
A vida sentimental é a área em que mais eu vejo as pessoas caírem, não propriamente dito em pecado, mas porque desanimaram, porque pensaram que seria mais fácil talvez, o primeiro “não” já foi o suficiente para desanimar, deixar de lutar. Eu te digo, se Jacó se conformasse com a proposta de Labão, não teria quem realmente ama, do que adiantaria? Casar-se com alguém, dizer que está feliz, mas lá dentro queria que fosse a outra? Mas lembre-se que digo isso quando a pessoa ouve a voz de Deus, é claro que se a pessoa não quer que a vontade de Deus prevaleça, sempre vai ser assim, porque nem sempre , ou quase sempre a nossa vontade não é a de Deus.
Você deve lutar sim pela sua vida sentimental, o que você não deve é se preocupar até chegar ao ponto de passar ouvir e aceitar as propostas do diabo, pois ele sabe o que precisamos, ele vê quando a gente ora, ele sabe o que a gente quer, por isso ele tem o mundo inteiro a seu favor, justamente para tentar ofuscar nossos objetivos e sonhos. Não vá na conversa de ninguém, eu não vou! Já recebi sugestões de pessoas que eu “deveria” dar ouvidos, “tentar” que desse certo, mas não sigo nenhuma, se eu não souber o que eu quero, o que vai valer? Do que será válida toda essa minha crença?
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Quando vim pra Maringá, em Abril de 1995, passei a morar na república dos meus "primos", Marilene, Ronni e Marilei. Na época o Ronni cursava Engenharia Civil na UEM e a Marilei Odontologia. Marilene, já formada em Direito, trabalhava como corretora de imóveis e estava sempre atribulada, de modo que acabamos convivendo pouco. Passava mais tempo com o Ronni e com a Marilei.
Foi uma época bastante turbulenta em minha vida. Nada que se compare às provações que estou passando agora, mas considerando as condições nas quais cheguei aqui, foram dias bastante incertos. Mas por outro lado foi um período de descobertas. Saindo da casa dos pais, vindo pra uma cidade estranha para morar com parentes até então estranhos. Não foi fácil.
Mas hoje, olhando pra trás vejo tudo aquilo com uma certa saudade até. As preocupações eram bem menores e o futuro não estava na ordem do dia.
Mas o que me lembro muito bem é a amizade que estabeleci rapidamente com a Marilei. Talvez porque nós dois nascemos no ano de 19**.... (deixá pra lá!!!), ou talvez por questão de afinidade mesmo (esse negócio de afinidade sempre vai me lembrar o BBB.) Mas o fato é que, já desde aquela época gosto muito dessa minha prima.
Mas eis que a vida nos separou. Houve um "paredão" e eu fui eliminado. Rs rs rs.......
Tenho já, de certa forma, essa dívida com a Marilei. Digo isso porque ela ajudou a tornar essa fase da minha vida bem mais digerível. E olha que ela foi bastante paciente. Naquela época eu era demasiado jovem e não dava muita importância a coisas do tipo... arrumar a cama, lavar a louça, enfim, afazeres domésticos.
Dizer obrigado só não resolveria a questão. Mesmo assim, obrigado, ainda que tardiamente.
Fiquei muitos anos sem noticias da prima Marilei, limitadas às festas regulamentares, Natal, Ano Novo, alguma formatura e coisas do gênero. Tive a feliz surpresa de revê-la na formatura da Fernanda, mês passado. Conversamos sobre as vicissitudes da vida, casamentos desfeitos e afins. Coisas da vida.
Mas é lógico que não estou nessa onda saudosista e obrigadosista do nada.
Não bastasse essa divida que tenho com ela e, extensivamente com meus outros "primos" (incluindo aqui prima Mariluce.) , eis que agora estou devendo mais alguns barões pra Marilei... e essa vai ser difícil de acertar.
Hoje a Marilei me indicou um filme. "Prova de Fogo". Não sei como descrever tudo o que está acontecendo na minha vida.
Deus tem usado recursos e pessoas para falar comigo. Mas desta vez ele me surpreendeu pela precisão. Incrível Ele utilizar tantos recursos pra produzir um filme, aliás muito bem produzido, especificamente para falar comigo. Tô sem palavras !!!
Obrigado Marilei, sobretudo por se colocar à disposição de Deus para abençoar a minha vida. Obrigado pelas conversas que temos tido e, por favor, continue orando por restauração.
Hoje acredito que o amor realmente não acaba, se
acabou, nunca existiu. Se existiu, ainda está lá. Mas veja bem, o sentimento Amor não
resolve quase nada sozinho. Ele é apenas uma ferramenta, assim como outras habilidades
que eu e você temos. O importante é o que cada um produz com essas ferramentas.
Conheci ao longo da vida muitas pessoas extremamente inteligentes e habilidosas mas
que, sem a atitude correta, não conseguiram construir nada com esses talentos.
Com o amor é a mesma coisa. Existe o amor sentido
e existe a aplicação cotidiana dele, que é o amor praticado, e praticado diuturnamente,
e isso dá trabalho. O amor exige provas diárias, de hora em hora, de minuto em
minuto.
Me lembro de uma situação na minha infância e adolescência que sempre
me incomodou. Quando um amigo ou amiga chegava pra mim e fazia aquela chantagem
emocional básica: Se você não fizer tal coisa eu vou embora, ou eu nunca mais
falo com você.
Quando isso acontecia, eu sempre ficava com a
impressão de que minha relação de amizade com essa pessoa só interessava para
mim. Para o outro tanto faz a minha presença ou a minha amizade, como se o fato
de estarmos ali juntos fosse um favor que ele(a) me prestava. Coisa estranha
isso.
Hoje tenho um grupo de amigos que bebe muito, e
para eles beber junto é prova de amizade. Pois bem, eu não bebo. Bebi bastante
no inicio da crise, mas hoje não bebo mais, e não bebo porque não gosto de
beber, só isso. Não tenho nada contra quem bebe, desde que não faça mal a
outras pessoas.
Mas por não beber com os “camaras” minha amizade
tem sido questionada. Todo fim de semana saímos juntos e eles bebem e todos tem que beber pra provar que se amam (daí vem o termo
amigo, aquele que ama). E a amizade, pra esse grupo, se resume a isso: Se bebe
é amigo, se não bebe não é.
Essa simplificação do conceito de relacionamento
me parece bastante perigosa, mas bem comum hoje em dia. O caráter utilista das
relações, do qual já tratei em outro artigo, exige que o tempo todo estejamos
avaliando nossas relações, qualquer que seja sua natureza, para sabermos se não
estamos “ficando por baixo”, se não estamos dando mais do que recebendo. É triste,
mas será que realmente é errado ?
Confesso que por muito tempo, devido à minha
formação digamos “humanista”, fui avesso a essa abordagem fria e racional das
relações. Quem me conhece a mais tempo sabe que sou bastante impulsivo,
sanguíneo, temperamental, enfim, marcas da bi-polaridade. Sempre coloquei os
sentimentos à frente da razão, e sempre paguei por isso.
Mas hoje, em face dos últimos acontecimentos,
tenho tentado reler essa minha postura diante dos amores. Talvez, e veja que eu
disse talvez, o amor incondicional seja realmente um erro. Pra mim amor
incondicional sempre foi um pleonasmo, uma licença poética. Por isso confesso
que me dá até uma dor no peito dizer uma coisa dessas, mas talvez eu estivesse
enganado a vida toda. Talvez seja preciso fé cega e pé atras.
Adaptado do excelente Blog Tempestade de Idéias de @Beth_Amorim____________________________________________________ "Nos últimos meses disseram-lhe várias [e várias] vezes que só o tempo seria capaz de ajudá-lo a atravessar a tempestade que se abateu sobre sua vida. Disseram-lhe também para ter esperança, pois, com o passar do tempo, as coisas voltariam ao normal(?). (...)E, "fã do tempo" como sempre foi, sabia que as pessoas estavam corretas. Percebeu que ele seria seu grande aliado, embora não tivesse muita noção de como essa "aliança" funcionaria... Ou, quanto tempo levaria o tempo para desfazer aquelas nuvens escuras da tempestade... (...) Para ele foi uma eternidade. Um período escuro, cheio de desesperanças, que o sufocou, que o devorou como um bicho carnívoro e faminto devora sua presa enquanto ela ainda está viva. [Lembrando que, enquanto agonizava, a pobre e desgraçada presa sentia cada mordida, cada pedaço arrancado, cada parte de si que padecia diante da fera...] Assim foram seus dias. Sentiu todas as dores possíveis. Amargurou-se. Achou que aquele momento seria eterno e que a sua vida fosse ficar encoberta pela escuridão por longos e longos anos... Encheu o peito de tristeza e melancolia. Gritou várias vezes na esperança de aplacar um pouco mais a dor. Depois de muito agonizar, ela agarrou-se ao tempo e ao amor-próprio para sobreviver. Mesmo dilacerado, percebeu que a vida continuava. Sentiu a esperança brotar novamente dentro do seu ser. Porém, a "platéia" julgou que isso foi muito pouco. Queriam ver mais sangue na arena. Queriam ver mais lágrimas, mais dores, mais desespero. Queriam que as feridas continuassem abertas e sangrando a cada cutucada do algoz chamado "saudade". Talvez até quisessem que isso durasse pra sempre... É, talvez. Por isso, decepcionaram-se tanto com sua rápida(?) cura. Entristeceram-se bastante com sua alegria repentina. Abismaram-se com seu renascimento. Acharam um absurdo sua "ousada tentativa" de sair daquele suplício - mesmo com todas as feridas ainda em processo de cicatrização. Mas, enquanto todos espantavam-se, ele não perdia tempo: abraçava a vida, colocava um sorriso no rosto e aproveitava cada um de seus dias. Isto é, ele passou a viver uma vida que era somente dele e de mais ninguém."
Adaptado do Dimensões de Júpiter, da @Castro_Julia Colei aqui só porque tive um dia muito ruim. Mas acabou !!! ____________________________________________ “Não é nada.” É só vontade de sentar de baixo do chuveiro e esperar passar. É só vontade de enxergar alguma coisa no espelho. Porque ”Eu” não significa nada. Acho que pra ninguém. (...) Tenho vontade de uma coisa só: Vontade de viver você. Dia que não chega nunca!
“Tudo bem?” também não significa nada. Se respondo “sim” pensando em chorar, tem alguma coisa errada. Se recebo sorrisos amarelos em resposta, só me resta mesmo é sentar e esperar acabar. Que seja com tempo ou que seja com o “nada”.
Passado um tempo da tragédia, vejo o quanto os amigos são fundamentais. Mas já felei isso repetidamente no FaceBook. Tenho outras questões ainda a resolver... ou a entender.
Ficamos juntos, eu e a Fabiola, por quase 14 anos. Considero bastante tempo. Ela já deu provas de que esses anos não significaram nada pra ela. Tenho conseguido ficar afastado dela a uma distância que também considero razoável, à pedido dela. Mas confesso que acho estranho isso. Juro por Deus que não entendo porque ela me trata como um leproso. Porque não podemos ser amigos ? Meu Deus, independente do que houve entre nós, sempre e a qualquer tempo, se algum estranho me pedisse um abraço eu jamais negaria. Porque então isso agora !? O mais curioso é que esse comportamento vingativo não combina com ela. Você que esta lendo essas palavras talvez conheça ela também. Será que ela sempre foi assim e eu não via !?
Alguém dirá que isso é "natural". Me disseram que agora sim, depois da separação, eu conheceria de fato quem é a Fabíola. Tenho ouvido inúmeras "receitas" de como agir e de como não proceder. Mas sempre reajo e respondo com a mesma firmesa: Ela é diferente, não vai funcionar.
Acredito no caráter dela acima de tudo. Vivi com ela por muitos e felizes anos e confio nela. Mas não entendo esse comportamento belicoso. Acreditei que teríamos um relacionamento evoluído em relação aos nossos pais (meus pais e os dela também são separados).
Percebo que hoje em dia em que tudo é descartável, todos os relacionamentos tem esse caráter utilista. Só nos fixamos a um relacionamento, de qualquer natureza, se ele nos trouxer algum "lucro" palpável. Ninguém esta mais disposto a sacrifícios. Isso também é natural, dizem. Fruto dos novos tempos. O Amor, o amorzão antigo perdeu muito do valor. Dia desses ela me disse que sabe que eu a amo, mas que isso não significa nada pra ela. Coisa triste de se ouvir.
Fico pensando se ela esta se vingando, se esforçando pra me magoar. Penso que talvez esteja sob influência de alguém. Mas ao mesmo tempo penso que talvez ela também esteja sofrendo com isso. Talvez sofra quando me vê. Não tenho esperança que sofra de saudade ou de amor. Se sofre provavelmente sofre ao lembrar desse tempo que passamos juntos que pra ela foi tão ruim.
Somos muito jovens ainda e espero sinceramente que ela aprenda que não se nega um abraço a ninguém deliberadamente, independente da justificativa.
Acho que a vingança é como um miojo com tang, enquanto o perdão é uma bela lasanha com vinho.
Sigo amando, sofrendo e desejando muito um abraço.
Reitero meu profundo agradecimento à todos os amigos, de algures e alhures, novos e antigos, meninos e meninas. Obrigado.
Num ameno domingo de dezembro, véspera de Natal, a dona-de-casa
Doralice Carvalho estava sentada na pequena varanda de sua moradia na ruaPedro
Soares deAndrade,em São Miguel. Olhao bairro conhecido que já principia a
esmorecer de movimento, sossegando no começo da noite. Ao seu lado, também
ocupando uma cadeira de plástico branco, seu marido e químico aposentado, Josué
Carvalho, faz partedo silêncio. Filhos já criados e casados, os dois já
entravam na casa dos 60.
– Dora, qual a cor do vestido que você está hoje?
Fogem os devaneios de Dora. Naquele preciso momento, a mulher pensava
numa longínqua data de setembro de 1973, dia de seu casamento. Então, ela
responde uma cor qualquer que tinha retida na memória – azul –, que Josué
gostava na vida de outros tempos.
Retoma-se o mesmo silêncio de muitos casais antigos. Ela olha em
direção às curvas do rio Tietê e, depois, volta para suas antigas lembranças.
Numa tarde, estava no Clube da Nitro. Uma fita amarela, que lhe prendia os
cabelos, foi o começo de tudo. Quando ela se desprendeu, arrancada pelas mãos
ágeis de Josué, os seus cabelos esvoaçaram-se ao vento. Ele acalmou-os, depois
desfez o nó do laço e jogou a fita sobre as águas. A fita, então, rodopiou na
beira da murada da ponte, caiu, teimou em afundar e ficou boiando.
– O que fiz? – ele se assustou.
Os dois jovens ficaram olhando a fita pegando o rumo da correnteza, até
o último momento. Depois, olharam-se parados, sonhando. E riram.
A partir daí, sempre aquela impressão que eram namorados, mesmo. Dora
sabia amá-lo. Sorria, sempre, contente. Ele fantasiava histórias, imaginava
casos e vestia-os de engraçado. Contava, ria também.
Casaram-se na antiga igrejade São Miguele, durante os cinco dias
seguintes, se conheceram mais intimamente num pequeno apartamento emprestado
por um colega de trabalho na praia do Gonzaguinha,em São Vicente.
Depois, o dia após dia. Muitas vezes, nalguma tarde, andava apressada –
cheia de compras, o dia tão curto –, quase correndo no meio da rua, para
esperá-lo. Labutava duro nos cuidados com a casa, mudava, trocava os móveis
toda semana de canto. Ele chegava, olhava, aprovava, dizendo bonito. Outros
dias, em começos de anoitecer, se assustava em imaginar que aquele seria o
instante em que não veria mais o bater do trinco no portão, o limpar de sapatos
no capacho, o girar da chave na fechadura. E Dora na sala esperando-o mesmo
sabendo que ouviria apenas o seu cansado boa-noite.
Uma noite esperou. Espera fora de costume. Deu para reparar em tudo que
era gente que passava na rua. Na cozinha, imaginava ouvir o trinco no portão.
Corria à janela, de onde podia vê-lo passar pela varanda. Mas ele não chegava.
Então, o trouxeram da fábrica de química. Havia passado a noite no hospital.
Ataduras cobrindo-lhe a face, se maldizia:
– Maldito acidente. Onde meus olhos ficaram?
Não se conformava:
– Antes a morte. Sem vista no mundo, pra quê?
Calada, ela ouvia tudo aquilo e sabia que na vida, em muitos de seus
meandros, não há caminhos de volta.Para
confortá-lo, sempre respondia:
– Pra tudo tem um jeito.
Nessa tarde de domingo em que abre suas lembranças no vazio de seu
bairro, ela sabe que os móveis, faz muito tempo, permanecem intocados. Mãos
espalmadas no braço da cadeira, ela sabe que Josué nunca será o mesmo.
Agora, como faz sempre, ele chama:
– Dora, me ajuda a ir ao quarto.
Ela desvia o olhar da rua vazia. Levanta. Puxa as sandálias debaixo da
cadeira. Chora penosa e limpa as vistas no vestido, que é azul mesmo.
Aproxima-se dele e pousa a mão em seu ombro.
Ele levanta seguindo a mulher. Ela guia seu corpo, livrando-o dos
baques no sofá, na mesinha de televisão, na porta do quarto.
Junto à cama, ela ajeita o lençol e o travesseiro. Ele senta. Tateia e
segura sua mão. Há um sinal de amor antigo e gratidão. Não dá para ver seus
olhos.
Sei, caros leitores, que esse modesto Blog se tornou monótono, monocromático, chato talvez... mas não consigo falar, pensar ou agir em torno de outra coisa que não seja a mulher que amo. Espero que vocês compreendam e aguentem firmes... logo logo ela volta e tudo será diferente.
Fulano tá com câncer. Nas últimas. desenganado. Decide com a família e os médicos pela Quimioterapia, última esperança desesperada de mais alguns natais. Daí encontra com o "amigo" Cicrano e diz, um tanto otimista, que vai começar a tal quimio amanhã. Pra quê !? Cicrano começa: Rapaz, num faz isso. É perda de tempo. Você vai sofrer à toa. Vai passar mal, dores horríveis, vômitos, diarréia. Seu cabelo vai cair. Tive um amigo que fez e disse que a sensação é que tinha um cachorro comendo ele por dentro. E pra quê, morreu do mesmo jeito o pobre. Larga mão Fulano. Se entrega logo. Morre de uma vez. Pra que esse apego á vida rapaz !? Vai por mim, tô falando isso porque sou seu amigo !!!"
Olha só. Fiquei pensando muito no que te dizer nesse dia tão triste. Você sabe o que tenho sofrido, mas hoje fiquei especialmente preocupado com você. Sei que você não merecia sofrer dessa forma, não é justo nem direito. Essa é a questão principal: merecimento. Alguns merecem sofrer, eu inclusive, cavei o poço onde agora estou enterrado. Mas não é esse seu caso.
Compartilho com você também essa sensação de impotência. Ficamos reféns de outra pessoa para quem nós não significamos mais absolutamente nada. Pro outro não existe problema colocado ou a ser resolvido. Pra ele a vida segue, sem dor, sem culpa, olhar posto á frente, planos e sonhos onde não cabemos mais. É triste, é egoísta mas é assim.
Quem sou eu pra te dizer pra tocar a vida pra frente. A minha estancou desde que ela foi embora. Como esquecer ? Como prosseguir ? Como suportar o intolerável !? Meus Deus do céu! Não tenho as respostas, mas sei que vou aprender a conviver com essa dor, esse vazio abissal impreenchível. Acho que vou...
Mas me conforta saber que você, de tão especial, há de superar essa dor na sussa. Não será rápido, mas deixará um aprendizado, espero. Sei que isso fará de você uma pessoa mais completa, mais forte, mais madura. Uma pessoa melhor, com certeza. Não deixe que essa experiência tire sua fé no amor, na vida e sobretudo nas pessoas. Não deixe que o sofrimento torne você uma pessoa pior. Você tem capacidade de arranjar outra pessoa, não digo melhor ou pior, porque isso não vem ao caso. Enquanto isso conte com os amigos, cerque-se deles, use e abuse, torture-os até às vezes, se forem “camaras” vão agüentar firmes e não arredarão pé do seu lado.
Fique com Deus Camilla, e “quando a chuva passar e o tempo abrir” e aparecer um novo sol na sua vida, não esqueça de dar a boa nova aos amigos, aos “camaras”, pra que eles comemorem com você.
Força sempre e obrigado por “cuidar” do meu tesouro.
Essa sua capacidade de se expor, de se desnudar. Acho muito doido ! Exclamou um amigo dia desses, admirado.
Na verdade não é uma capacidade, queridos, é uma necessidade. Sempre fui assim.
Por sorte sempre gostei das palavras. Sempre li muito e sempre gostei de escrever. Mais que isso, gosto do meu traço, gosto de combinar as palavras, manipular sinônimos, antônimos, mixar significantes e significados. Tem me ajudado bastante nesses dias trágicos. Através da escrita desabafo, descarrego toda minha bi-polaridade. O texto me escuta, me entende e me explica. Nele me enxergo, me percebo, converso comigo, me consolo. Nos damos bem já a muito tempo.
Tenho encontrado conforto na escrita e também no álcool. Pode parecer triste, mas me arrependo de não ter bebido desde o começo disso tudo. Teria me evitado tanto sofrimento. O álcool é mágico. Esqueço instantaneamente da minha tragédia. Passei a ter um certo respeito por quem bebe pra esquecer. Aplausos para nós.
Muito fácil pra você julgar. Rotular-me de fraco, avisar dos perigos. Exclamações e interrogações no conforto de seus relacionamentos estáveis e bem resolvidos. Vão se fuder todos vocês.
Lanço oficialmente a promoção: Pague minhas contas, resolva meus problemas e ganhe o direito de falar da minha vida!!!! Vão se fuder de novo. (Excessão para Hilma, Kênia e Jheylla e para os demais que tem se preocupado genuinamente comigo (e são muitíssimo poucos) ... e pra quem eventualmente tem me ajudado com problemas e contas).
Acho que não seja mais o caso de pensar em sobreviver. Sobreviver a tudo isso restou impossível, muito além das minhas forças. Essa dor delirante, sufocante. Essa angústia que tem me consumido. Essa traição que me amarga a alma e cala e sega o pouco que ainda há de nobre em mim. O corpo dá sinais de esgotamento. Não come, não dorme, sofre apenas. A cabeça, coitada, toda despombalizada, já perde o juízo, não diz coisa-com-coisa, não se concentra, não pensa. Como prosseguir ? Meu coração, tão vital na minha história, insiste e teima e não arreda pé: Quer Ela e pronto.
Se sobreviver a tamanho massacre, depois de tal estrago, o que restará ? Um ser magoado, amargo e triste, carregando “uma pedra no peito”? A alma seca, estéril. O sorriso (?) guardado pra sempre. A alma prostrada, a cabeça baixa. O triste cotidiano acachapante de obrigações e lembranças. Fotos e cartas trocadas. A saudade acenando nos lugares outrora freqüentados, a pulsação acelerada em cada cabelo rebelde, em cada batida na porta, em cada toque do celular. A presença constante da culpa, já em adiantada metástase, se espalhando por todos os aspectos dessa sobre-vida insana.
E o pior. A consciência da própria insignificância por parte da pessoa amada. A outra vida, antes tão unida à sua, segue seu rumo, alheio e indiferente à sua dor. Ser abandonado, substituído e, por fim, esquecido em questão de dias. Como conviver com isso.
Ninguém merece. Eu tampouco.
Já que a moda é pensar apenas na própria felicidade, se o egoísmo é o valor do momento, se o lema é “Serei feliz e os outros que se fodam”, então o melhor é desistir e entregar os pontos. Não vale a pena ser sobrevivente nesse “novo mundo”.
De qualquer maneira, no final a morte vencerá de qualquer forma e em todo e qualquer sentido. Mas será uma vitória já depois da prorrogação, nos penaltis. Embora vencedora, de tão exausta sequer conseguirá erguer a Taça. Mas vencerá.
E depois, que venha a longa estrada do renascimento.
Eu sempre soube o quão maravilhosa você é, grande amiga, orgulho de filha, irmã dedicada, esposa amorosa, prestativa, carinhosa, linda, gostosa, mulher batalhadora, inteligente, isso sem falar do ponto que acho principal em você, e o que mais admiro, um caráter único. (Espero aprender principalmente isso com você). E agora descubro também como você pode ser generosa... e paciente.
Tivemos uma VIDA de grande intimidade sim senhora. Houve pedras, reconheço, mas nego essa versão cinza-grená, editada apenas com os piores momentos, só com sangue e vísceras e lágrimas e mágoa. Trago gravado na minha retina momentos de companheirismo, de ternura, de carinho no cabelo, de planos, de erros mas também de acertos, vitórias e derrotas, surpresas, risos...
É.... a saudade mata a gente loirinha !!!
Preciso destacar os amigos, grandes amigos, incríveis, inesquecíveis, insubstituíveis, que o tempo deixou pelo caminho e que agora fazem tanta falta.
Eu sei, esses foram momentos coloridos que você proporcionou para mim, sem a devida contra-partida de minha parte. Fica fácil enxergar beleza quando não se tem lágrimas nos olhos. Pra variar, concordo com você nisso também.
Mas você, coração magoado, porém justo, concordará comigo que EM NENHUM MOMENTO EU NEGUEI NINHA INTEGRAL PARCELA (?) DE CULPA com relação a essa desgraça que se abateu sobre nosso casamento. Não discuto isso. É ponto pacífico.
Mas fica a pergunta: Que tipo de idiota perde TUDO isso ?. Porque eu não cuidei e não valorizei tamanho TESOURO que é você ? Porque eu não reguei a plantinha ? Porque ?
Agora eu sei.
Apesar de conhecer você como ninguém, apesar de REALMENTE AMAR VOCÊ COMO NINGUÉM JAMAIS SERÁ CAPAZ DE AMAR, apesar de ter uma visão clara de todos os seus predicados, o que me faltava era ME AUTO CONHECER A MIM MESMO, entende !? (Pleonasmo não devia ser pecado!)
Eu não tinha idéia do quanto EU AMO VOCÊ.
Não ria, mas milagres ainda acontecem.
Te agradeço por ter me feito enxergar isso. Você fez tanto por mim durante todo esse tempo que vivemos juntos e até agora, me fazendo sofrer tanto, você ainda me dá alguma coisa. Eu não sabia o quanto eu amava você, e por mais lugar comum e canalha que isso possa aparecer, agora, na merda, comendo o pão que o diabo amassou com a bunda, só agora eu vejo O QUANTO EU AMO VOCÊ.
Ines é morta !? Talvez.
A grande diferença, Fabíola, e digo isso olhando nos seus olhos, mas mirando sua alma (e desejando sua boca), é que agora, depois desses 71 dias de calvário, eu restabeleci inúmeros relacionamentos. Retificando alguns, ratificando outros, o fato é que hoje eu sou alguém diferente em diversos aspectos, mas sobretudo nos relacionamentos. Aqui estou eu, rabinho entre as pernas, na humilde, pedindo colo para pessoas que, assim como você, me amam muito mas foram negligenciados por mim por muito tempo.
A diferença é que Pai não pede separação. (mãe acho que sim... mas essa é outra história).
Essa ênfase nos relacionamentos inclui esse difícil convívio diário do Marcos com o Daniel, as vezes tão antagônicos, tão diferentes um do outro. Mas tem sido bacana.
Vou terminar agora. Atenção
Te amo, já concordamos sobre isso. Outro ponto pacífico.
A GRANDE DÚVIDA que fica é se serei capaz de ser o HOMEM QUE VOCÊ MERECE.
A resposta é SIM.
Mas o que mudou, Marcos ?
É que hoje eu sei o quanto eu amo você. Não adianta você saber o valor da pessoa que está ao seu lado se você não sabe que você a ama. E hoje eu sei, e como sei. E você também sabe que ninguém te ama como eu.
E tem mais. Eu fiz as pazes comigo, eu me perdoei por todo o mal que eu fiz a você, meu tesouro, e extensivamente a mim mesmo.
Eu errei, eu sofri, mas encontrei a resposta.
Agora eu estou pronto para o novo. Produzindo, vivendo, te amando e esperando, pelo tempo que for.
E quando você me perdoar, e estiver pronta para o novo, é só você estalar o dedo, que o nosso futuro começa.
"E nossa história não estará pelo avesso assim,
sem final feliz. Teremos coisa bonitas pra contar.
Primeiro quero dizer que tenho passado dias importantes. Coisas impressionantes, positivas e negativas, tem acontecido. Nunca conversamos, eu e você, sobre muitas coisas, mas estou ansioso em encontrá-lo pessoalmente para compartilhar tudo de bom e de ruim que tem acontecido na minha vida. Confesso que os últimos 10 dias foram provavelmente os mais intensos de toda a minha história.
Nesses dias tenho lutado com uma determinação nunca antes vista nestes meus 37 anos de vida. Pode parecer um pouco tarde pra isso, mas o tempo de lutar é agora. Tenho lutado por algo que é muito importante para mim e essa luta tem me transformado rapidamente. Posso dizer sem medo de errar que não sou o mesmo de dias atrás.
Mas a luta tem deixado marcas e feridas, e mortos pelo caminho. Se estou mais maduro, mais disciplinado, mais concentrado e muito mais otimista com relação à vida, também estou ferido e magoado. E magoado, talvez, da pior magoa possível, de uma magoa comigo mesmo. Preciso fazer as pazes comigo... mas essa ainda é uma longa estrada.
Hoje, passando pela mesma situação pela qual você passou 20 e tantos anos atras, minha memória me permite avaliar o fantástico esforço que você empreendeu, na época, para reduzir, na medida do possível, todo o trauma que uma separação poderia acarretar a dois menininhos de 10 e 15 anos. Hoje lhe sou grato também por isso. Você preencheu com dedicação todas as lacunas de minha infância. Carinho, pulso e sobretudo amor. Obrigado
"A lição mais valiosa que tiro (...)
é que precisamos cuidar de quem amamos."
Obrigado também por ter feito questão de investir em minha educação, me mantendo, a duras penas, em uma das melhores escolas da cidade. Ainda hoje colho frutos disso.
Me arrependo de muitas coisas que fiz até aqui, mas principalmente do que deixei de fazer. Deveria ter me aproximado mais de vocês todos. Da minha mãe Eliana, do meu irmão e de minhas irmãs queridos e principalmente de você. Agora sinto o peso de ter saido daí da forma como saí, meio pela porta dos fundos.
Me lembro da meninas ainda muito pequenas, a casa sempre animada, muitas crianças, primos, sobrinhos, tios e tias, e eu, então com apenas 16 anos e já muito chato, fechado em meu quarto ouvindo minhas músicas e evitando justamente o convício que hoje me faz tanta falta.
Perdi uma fase importante da vida das minhas irmãs, de modo que agora não tenho nem muita intimidade para conversar com elas. Gostaria de falar e ouvir o que elas tem a dizer, pedir conselhos. Ter longas conversas com a Anadir nessa nova fase de sua vida, poder compartilhar mais de perto suas vitórias. Poder rir com a juventude da Heloísa e me deliciar com o jeito acolhedor da Fernanda. Todas herdaram o brilho da mãe. Poder dizer que as amo, todas as quatro, e muito. Dizer que estou aqui, como irmão mais velho, para o que der e vier. Não sei que opinião elas tem a meu respeito. Mas preciso que elas saibam que tenho pensado muito nelas esses dias de solidão. Estou chorando agora, mas isso tem sido bem comum nesses dias.
O que dizer do Junior então. Tenho fotos de minha infância com ele e tenho me debruçado sobre essa infância demoradamente, tentando entender essa estrada que me trouxe até essa encruzilhada. Gostaria de sentar ao lado dele agora, para lembrarmos do Pé de araçá da casa da Dona Carmem, do carrinho de controle remoto, das briguinhas bobas. Me lembro que eu, sempre com a saúde frágil, tinha inveja dele por praticar esportes, empinar papagaio, jogar pião e principalmente por lavar o carro, com direito a uma voltinha depois. Eu o admirava muito, mas a vida nos separou muito cedo. Gostaria de poder ligar pra ele e, superando a angustiante falta de assunto, compartilhar essa sua experiência de ser pai e o bem que, imagino, isso esteja fazendo para todos os três.
Nunca senti falta da minha mãe, e se disser que estou sentindo agora estarei mentindo. Desisti dela faz tempo, algum tempo depois dela ter desistido de mim. Mas não há tempo para mágoas. Prefiro acreditar em alguém que tentou ser mãe, mas não levava (ou leva?) o menor jeito pra isso.
A Eliana tem sido uma Mãe espetacular. Madrasta é uma palavra carregada de preconceito. Se minha vida tivesse sido madrasta teria sido muito melhor. Dedicação e paciência sem ter obrigação disso. Junto com meu pai, exemplo e referência de dedicação e amor à familia. Obrigado.
Como já disse coisas fantásticas tem acontecido dentro de mim numa velocidade difícil de acompanhar. Gostaria de estar com todo mundo que amo. A lição mais valiosa que tiro da Grande Tristeza é que precisamos cuidar de quem amamos, porque a indiferença tem conseqüências terríveis, cobra um preço extremamente alto... e a vida prega peças na gente.
Espero que possamos nos ver em breve. Desejo mesmo cuidar melhor de todos que amo, mais ainda vai levar um tempo até me levantar de novo. O tempo agora corre contra mim em muitos aspectos. Quero cuidar de todos mas preciso ser cuidado agora, e essa posição de carência, por ser nova, me é um pouco desconfortável.
Me despeço dizendo que te amo muito, pai, e pedindo perdão pela maneira indiferente como tenho lhe tratado durante toda minha vida, por ter relegado nossa relação a natais e aniversários. Devido a esse comportamento perdi, talvez pra sempre, alguém que era o meu ar e minha inspiração e, repito, aprendi que é preciso aproveitar urgentemente os momentos com quem amamos.
Tinha um cara muito muito muito rico que tinha um Camaro amarelo-ovo com banco de couro, mas era ruim que só o cão. E tinha esse outro cara, de nome Lázaro que vivia na merda, mas era super camarada, do bem mesmo, fã do Zeca Pagodinho e tudo o mais.
Morreu o tal Lázaro, o mendigo, e foi pra um lugar bacaninha, com clima ameno, céu aberto sem previsão de chuva forever.
Morreu o rico lazarento e se fudeu, foi pro inferno, também sem chuva, mas um calor de arrancar pica-pau do oco.
Abraçado ao Capeta o rico olha pra cima e consegue ver o ex-mendigo seboso de boa, na sombra, comendo uma tigela de açaí com moranguinho picadinho e melzinho na ilustríssima companhia do próprio Jesus.
Daí o safado, na humilde, pede autorização pros superiores para que Lázaro “(...) molhe a ponta do seu dedo, e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama!”
Mas daí a CCJ do Céu julgou o pedido inconstitucional.
Enfim... se fudeu o Mané. Isso porque ele nem sabe que o filho bateu o Camaro amarelo-ovo dele logo depois do enterro.