sábado, 23 de julho de 2011

Abrindo o coração !!! (ou O Homem que não sabia amar)

"Por onde andei enquanto você me procurava ? 
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada."
(Por onde andei - Nando Reis)



"Voe por todo o mar, e volte aqui
Voe por todo o mar e volte aqui
Pro meu peito."
(O Vento - Jota Quest)



Eu sempre soube o quão maravilhosa você é, grande amiga, orgulho de filha, irmã dedicada, esposa amorosa, prestativa, carinhosa, linda, gostosa, mulher batalhadora, inteligente, isso sem falar do ponto que acho principal em você, e o que mais admiro, um caráter único. (Espero aprender principalmente isso com você). E agora descubro também como você pode ser generosa... e paciente.

Tivemos uma VIDA de grande intimidade sim senhora. Houve pedras, reconheço, mas nego essa versão cinza-grená, editada apenas com os piores momentos, só com sangue e vísceras e lágrimas e mágoa. Trago gravado na minha retina momentos de companheirismo, de ternura, de carinho no cabelo, de planos, de erros mas também de acertos, vitórias e derrotas, surpresas, risos...

É.... a saudade mata a gente loirinha !!!

Preciso destacar os amigos, grandes amigos, incríveis, inesquecíveis, insubstituíveis, que o tempo deixou pelo caminho e que agora fazem tanta falta.

Eu sei, esses foram momentos coloridos que você proporcionou para mim, sem a devida contra-partida de minha parte. Fica fácil enxergar beleza quando não se tem lágrimas nos olhos. Pra variar, concordo com você nisso também.

Mas você, coração magoado, porém justo, concordará comigo que EM NENHUM MOMENTO EU NEGUEI NINHA INTEGRAL PARCELA (?) DE CULPA com relação a essa desgraça que se abateu sobre nosso casamento. Não discuto isso. É ponto pacífico.



Mas fica a pergunta: Que tipo de idiota perde TUDO isso ?. Porque eu não cuidei e não valorizei tamanho TESOURO que é você ? Porque eu não reguei a plantinha ? Porque ?

Agora eu sei.

Apesar de conhecer você como ninguém, apesar de REALMENTE AMAR VOCÊ COMO NINGUÉM JAMAIS SERÁ CAPAZ DE AMAR, apesar de ter uma visão clara de todos os seus predicados, o que me faltava era ME AUTO CONHECER A MIM MESMO, entende !? (Pleonasmo não devia ser pecado!)

Eu não tinha idéia do quanto EU AMO VOCÊ.

Não ria, mas milagres ainda acontecem.

Te agradeço por ter me feito enxergar isso. Você fez tanto por mim durante todo esse tempo que vivemos juntos e até agora, me fazendo sofrer tanto, você ainda me dá alguma coisa. Eu não sabia o quanto eu amava você, e por mais lugar comum e canalha que isso possa aparecer, agora, na merda, comendo o pão que o diabo amassou com a bunda, só agora eu vejo O QUANTO EU AMO VOCÊ.

Ines é morta !? Talvez.

A grande diferença, Fabíola, e digo isso olhando nos seus olhos, mas mirando sua alma (e desejando sua boca), é que agora, depois desses 71 dias de calvário, eu restabeleci inúmeros relacionamentos. Retificando alguns, ratificando outros, o fato é que hoje eu sou alguém diferente em diversos aspectos, mas sobretudo nos relacionamentos. Aqui estou eu, rabinho entre as pernas, na humilde, pedindo colo para pessoas que, assim como você, me amam muito mas foram negligenciados por mim por muito tempo.

A diferença é que Pai não pede separação. (mãe acho que sim... mas essa é outra história).

Essa ênfase nos relacionamentos inclui esse difícil convívio diário do Marcos com o Daniel, as vezes tão antagônicos, tão diferentes um do outro. Mas tem sido bacana.

Vou terminar agora. Atenção

Te amo, já concordamos sobre isso. Outro ponto pacífico.

A GRANDE DÚVIDA que fica é se serei capaz de ser o HOMEM QUE VOCÊ MERECE.

A resposta é SIM.

Mas o que mudou, Marcos ?

É que hoje eu sei o quanto eu amo você. Não adianta você saber o valor da pessoa que está ao seu lado se você não sabe que você a ama. E hoje eu sei, e como sei. E você também sabe que ninguém te ama como eu.

E tem mais. Eu fiz as pazes comigo, eu me perdoei por todo o mal que eu fiz a você, meu tesouro, e extensivamente a mim mesmo.

Eu errei, eu sofri, mas encontrei a resposta.

Agora eu estou pronto para o novo. Produzindo, vivendo, te amando e esperando, pelo tempo que for.

E quando você me perdoar, e estiver pronta para o novo, é só você estalar o dedo, que o nosso futuro começa.


"E nossa história não estará pelo avesso assim, 
sem final feliz. Teremos coisa bonitas pra contar.
E até lá vamos viver, temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás, apenas começamos
O mundo começa agora. Apenas começamos."
(Metal contra as nuvens - R. Russo)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carta ao meu pai.

Primeiro quero dizer que tenho passado dias importantes. Coisas impressionantes, positivas e negativas, tem acontecido. Nunca conversamos, eu e você, sobre muitas coisas, mas estou ansioso em encontrá-lo pessoalmente para compartilhar tudo de bom e de ruim que tem acontecido na minha vida. Confesso que os últimos 10 dias foram provavelmente os mais intensos de toda a minha história.

Nesses dias tenho lutado com uma determinação nunca antes vista nestes meus 37 anos de vida. Pode parecer um pouco tarde pra isso, mas o tempo de lutar é agora. Tenho lutado por algo que é muito importante para mim e essa luta tem me transformado rapidamente. Posso dizer sem medo de errar que não sou o mesmo de dias atrás.

Mas a luta tem deixado marcas e feridas, e mortos pelo caminho. Se estou mais maduro, mais disciplinado, mais concentrado e muito mais otimista com relação à vida, também estou ferido e magoado. E magoado, talvez, da pior magoa possível, de uma magoa comigo mesmo. Preciso fazer as pazes comigo... mas essa ainda é uma longa estrada.

Hoje, passando pela mesma situação pela qual você passou 20 e tantos anos atras, minha memória me permite avaliar o fantástico esforço que você empreendeu, na época, para reduzir, na medida do possível, todo o trauma que uma separação poderia acarretar a dois menininhos de 10 e 15 anos. Hoje lhe sou grato também por isso. Você preencheu com dedicação todas as lacunas de minha infância. Carinho, pulso e sobretudo amor. Obrigado



"A lição mais valiosa que tiro (...) 
é que precisamos cuidar de quem amamos."




Obrigado também por ter feito questão de investir em minha educação, me mantendo, a duras penas, em uma das melhores escolas da cidade. Ainda hoje colho frutos disso.

Me arrependo de muitas coisas que fiz até aqui, mas principalmente do que deixei de fazer. Deveria ter me aproximado mais de vocês todos. Da minha mãe Eliana, do meu irmão e de minhas irmãs queridos e principalmente de você. Agora sinto o peso de ter saido daí da forma como saí, meio pela porta dos fundos.

Me lembro da meninas ainda muito pequenas, a casa sempre animada, muitas crianças, primos, sobrinhos, tios e tias, e eu, então com apenas 16 anos e já muito chato, fechado em meu quarto ouvindo minhas músicas e evitando justamente o convício que hoje me faz tanta falta.

Perdi uma fase importante da vida das minhas irmãs, de modo que agora não tenho nem muita intimidade para conversar com elas. Gostaria de falar e ouvir o que elas tem a dizer, pedir conselhos. Ter longas conversas com a Anadir nessa nova fase de sua vida, poder compartilhar mais de perto suas vitórias. Poder rir com a juventude da Heloísa e me deliciar com o jeito acolhedor da Fernanda. Todas herdaram o brilho da mãe. Poder dizer que as amo, todas as quatro, e muito. Dizer que estou aqui, como irmão mais velho, para o que der e vier. Não sei que opinião elas tem a meu respeito. Mas preciso que elas saibam que tenho pensado muito nelas esses dias de solidão. Estou chorando agora, mas isso tem sido bem comum nesses dias.

O que dizer do Junior então. Tenho fotos de minha infância com ele e tenho me debruçado sobre essa infância demoradamente, tentando entender essa estrada que me trouxe até essa encruzilhada. Gostaria de sentar ao lado dele agora, para lembrarmos do Pé de araçá da casa da Dona Carmem, do carrinho de controle remoto, das briguinhas bobas. Me lembro que eu, sempre com a saúde frágil, tinha inveja dele por praticar esportes, empinar papagaio, jogar pião e principalmente por lavar o carro, com direito a uma voltinha depois. Eu o admirava muito, mas a vida nos separou muito cedo. Gostaria de poder ligar pra ele e, superando a angustiante falta de assunto, compartilhar essa sua experiência de ser pai e o bem que, imagino, isso esteja fazendo para todos os três.

Nunca senti falta da minha mãe, e se disser que estou sentindo agora estarei mentindo. Desisti dela faz tempo, algum tempo depois dela ter desistido de mim. Mas não há tempo para mágoas. Prefiro acreditar em alguém que tentou ser mãe, mas não levava (ou leva?) o menor jeito pra isso.

A Eliana tem sido uma Mãe espetacular. Madrasta é uma palavra carregada de preconceito. Se minha vida tivesse sido madrasta teria sido muito melhor. Dedicação e paciência sem ter obrigação disso. Junto com meu pai, exemplo e referência de dedicação e amor à familia. Obrigado.

Como já disse coisas fantásticas tem acontecido dentro de mim numa velocidade difícil de acompanhar. Gostaria de estar com todo mundo que amo. A lição mais valiosa que tiro da Grande Tristeza é que precisamos cuidar de quem amamos, porque a indiferença tem conseqüências terríveis, cobra um preço extremamente alto... e a vida prega peças na gente.

Espero que possamos nos ver em breve. Desejo mesmo cuidar melhor de todos que amo, mais ainda vai levar um tempo até me levantar de novo. O tempo agora corre contra mim em muitos aspectos. Quero cuidar de todos mas preciso ser cuidado agora, e essa posição de carência, por ser nova, me é um pouco desconfortável.

Me despeço dizendo que te amo muito, pai, e pedindo perdão pela maneira indiferente como tenho lhe tratado durante toda minha vida, por ter relegado nossa relação a natais e aniversários. Devido a esse comportamento perdi, talvez pra sempre, alguém que era o meu ar e minha inspiração e, repito, aprendi que é preciso aproveitar urgentemente os momentos com quem amamos.




Mas não é fácil fazer as pazes com o passado. 

Do seu filho 

Marcos Daniel 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Minha versão da parábola... (ou Ao Amigo Distante)


Tinha um cara muito muito muito rico que tinha um Camaro amarelo-ovo com banco de couro, mas era ruim que só o cão. E tinha esse outro cara, de nome Lázaro que vivia na merda, mas era super camarada, do bem mesmo, fã do Zeca Pagodinho e tudo o mais.

Morreu o tal Lázaro, o mendigo, e foi pra um lugar bacaninha, com clima ameno, céu aberto sem previsão de chuva forever.

Morreu o rico lazarento e se fudeu, foi pro inferno, também sem chuva, mas um calor de arrancar pica-pau do oco.

Abraçado ao Capeta o rico olha pra cima e consegue ver o ex-mendigo seboso de boa, na sombra, comendo uma tigela de açaí com moranguinho picadinho e melzinho na ilustríssima companhia do próprio Jesus.

Daí o safado, na humilde, pede autorização pros superiores para que Lázaro “(...) molhe a ponta do seu dedo, e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama!”

Mas daí a CCJ do Céu julgou o pedido inconstitucional.

Enfim... se fudeu o Mané. Isso porque ele nem sabe que o filho bateu o Camaro amarelo-ovo dele logo depois do enterro.

(Lucas, Cap. XVI, v. 19-31.)

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Nota 1) Eu, no caso, sou o rico. Tô fudidaço!!! A diferença é que eu sei que tão zoando meu Camaro.

Nota 2) Hoje recebi um email de uma amigo que não vejo faz 20 anos. Era Lázaro molhando a ponta dos dedos e refrescando minha lingua.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Bala e o Festim


I know someday you'll have a beautiful life,
I know you'll be a star In somebody else's sky.
But why, can't it be mine !?
(Black - Pearl Jam)

Afirmo com convicção, e assumindo o risco da execração, que a separação é pior do que o luto. 

Porque o luto, por pior que seja, é um ponto final. O luto não dá margem à esperança. 

No luto há apenas dor, saudade, talvez revolta, uma tristeza abissal, com certeza, mas não esperança. 

Na separação fica esse resíduo persistente da esperança, sempre uma "mas", um "talvez", um "será!?", uma dúvida. 

É o celular que toca, a batida na porta, uma voz chamando seu nome, tudo é pretexto pra acordar a esperança.

Mesmo depois da frase "conheci outra pessoa" a esperança persiste, latejante. 

Mas por favor, não estou aqui reclamando da esperança. 

Quem ousará retirar das mães dos desaparecidos, daquelas que não puderam enterrar seus filhos, a companhia silenciosa da esperança.

Se a esperança é tudo que a vida me reserva, fico com ela. 

Tirarei ela pra dançar, tomaremos uma garapa em frente à Catedral nas noites de insônia. 

Ela ouvirá minhas histórias e lembranças. 

Riremos juntos para, depois quem sabe, morrermos abraçados à saudade.

Enfim, entre o som do disparo e o impacto da bala, SEMPRE haverá a esperança de um festim.

É a vida que segue... ou não !?