domingo, 9 de dezembro de 2012

sofreguidão


















Mas logo eu, que cheguei por aqui agora. 
Que não entendo nada dessas coisas 
e de tudo o que há pra se entender 
ou pra não se entender por aqui. 

Eu que venho com a pressa de quem já chega 
meio que de partida para outro lugar 
que nunca é aqui e nem era lá. 

Eu que não sei muito bem 
porque vim e nem porque estava 
e nem porque vou pra onde. 

Eu que não quero mais o que eu nunca fui, 
que temo o que eu nunca serei e que desconfio 
dessa cara amassada que talvez seja o que eu sou 
ou não e que se desamassa num sorriso triste 
enquanto eu passo a camisa do uniforme 
em cada manhã sonolenta e triste. 
E um sorriso, mesmo que triste, 
ainda é um sorriso.

Eu que trazia tudo sempre confusamente 
bem resolvido, as manchas muito limpas, 
cada bolor e ferida sempre em seu devido lugar errado.

Agora vejo que terei que me reconstruir 
do que sobrou desse que era sem nunca ter sido, 
desse que se assentava seguro e confortável 
à sombra daquilo que um dia talvez, quem sabe, 
viria a ser se tudo desse certo e nada desse errado, 
o que de fato jamais aconteceu.

- marcos daniel -



Nenhum comentário: