domingo, 1 de setembro de 2013

Porque ninguém vale mais do que a sua paz

Garganta fechada, estômago embrulhado, mãos suadas, falta de apetite, insônia. Um médico ficaria preocupado com tais sintomas, afinal, pode ser uma nova gripe, um novo vírus. E é. De certa forma. As unhas roídas, a carne dos dedos sangrando, derramando em cada gota desse sangue amargo um resquício da angústia que desola milhões todos os dias. Ah, o poder de um telefonema não atendido, de um SMS não respondido, de um sorriso não correspondido. É devastante. Pessoas convivem com essa bomba relógio diariamente, esse tic tac que não te abandona nem em um show barulhento. E por mais humano e natural que seja ficar nervoso, de vez em quando, é preciso lembrar que essa adrenalina, essa fogueira na barriga, precisa uma hora se apagar.

A vida é cheia de pessoas. Ser gente é assim mesmo, se relacionar. A gente começa desde cedo a ter contato, a depender do outro. Quando crianças, passamos de mão em mão, sem saber andar. Nossos primeiros grunhidos são emitidos na ânsia de dizer algo. Porque sempre queremos dizer algo a alguém. Eis eu aqui, dizendo algo a alguém. E esperamos, em troca, uma resposta. Qualquer que seja. Mas não somos preparados para sermos ignorados. Não somos instruídos a encarar nosso próprio silêncio, a nos olharmos de cara lavada no espelho do banheiro às 3 da manhã. E principalmente, não somos ensinados a ser autossuficientes.



Que fique claro, de antemão, que não se trata de não contar com ninguém. Não se trata de ser sozinho. Mas sim de, se for o caso, conseguir viver sozinho, em paz. Que seja possível tocar a vida após ser ignorado, chutado, trocado. É assim mesmo, passa no final das contas. E, por mais clichê que seja, a vida sempre traz algo melhor depois. Nada é insubstituível. Nada é maior que a sua paz, que a sua satisfação consigo mesmo. E se alguém está tirando seu sono, sua fome, sua energia, aproveite essa “tiração” de coisas e tire essa pessoa da sua vida. Não vale a pena sofrer. É óbvio que a gente sofre, chora, é inevitável. Mas não se permita passar muito tempo assim. Não é certo olhar para trás e se lembrar somente dos momentos de dor. Não é certo que uma pessoa tenha importância tal na sua vida, que uma ligação não atendida faça com que você perca todo o seu dia. Seu bem estar agradece, e seu coração também.

Então tire o dia pra fazer o que você gosta, pra se conhecer melhor. Tome um banho quente, passe aquela loção cheirosa no corpo, vista aquela roupa leve e que te faz sentir bem, desligue o celular e saia. Permita-se ficar só, ouvindo os sons da cidade, vá pra um lugar remoto, admire a paisagem e contemple o mundo, contemple a sua paz. Olhe para imensidão e se enxergue como só mais um ponto nesse universo gigantesco. Depois de se localizar, enxergue a sua dor como sendo menor do que você e, se você é pequeno perto do mundo, imagina a sua dor. Então você vai ver que nada é tão angustiante assim. Depois levante-se e experimente se sentar em uma mesa de bar, em uma cafeteria, sem ninguém. Pegar o cardápio e poder escolher o que quiser, sem se preocupar com o tempo para analisar as possibilidades. Ninguém vai estar esperando sua escolha. Só depende de você. Com calma, deguste o que pedir. Sinta os sabores. Sem olhar o relógio, sem se preocupar com a hora marcada. Seu compromisso maior tem de ser sempre com você. A paz interior é o bem mais precioso que você pode cultivar. E por mais que o mundo seja cheio de estímulos, às vezes, é preciso desacelerar. Deixe essa bomba de anseios, medos, carências e neuroses que está morando em você explodir de uma vez só. E com o perdão da paráfrase daquela canção do Gil, talvez essa bomba sobre você faça nascer um você de paz.
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