sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobre Amores e Provas


Se é amor tem desencontros. Amar também um contra o outro
E lutar sempre por esse amor, que morre e reascende melhor
Existem provas de amor, provas de amor, apenas provas de amor,
Mas não existe o amor, apenas provas de amor.

Hoje acredito que o amor realmente não acaba, se acabou, nunca existiu. Se existiu, ainda está lá. Mas veja bem, o sentimento Amor não resolve quase nada sozinho. Ele é apenas uma ferramenta, assim como outras habilidades que eu e você temos. O importante é o que cada um produz com essas ferramentas. Conheci ao longo da vida muitas pessoas extremamente inteligentes e habilidosas mas que, sem a atitude correta, não conseguiram construir nada com esses talentos.

Com o amor é a mesma coisa. Existe o amor sentido e existe a aplicação cotidiana dele, que é o amor praticado, e praticado diuturnamente, e isso dá trabalho. O amor exige provas diárias, de hora em hora, de minuto em minuto.

Me lembro de uma situação na minha infância e adolescência que sempre me incomodou. Quando um amigo ou amiga chegava pra mim e fazia aquela chantagem emocional básica: Se você não fizer tal coisa eu vou embora, ou eu nunca mais falo com você.

Quando isso acontecia, eu sempre ficava com a impressão de que minha relação de amizade com essa pessoa só interessava para mim. Para o outro tanto faz a minha presença ou a minha amizade, como se o fato de estarmos ali juntos fosse um favor que ele(a) me prestava. Coisa estranha isso.

Hoje tenho um grupo de amigos que bebe muito, e para eles beber junto é prova de amizade. Pois bem, eu não bebo. Bebi bastante no inicio da crise, mas hoje não bebo mais, e não bebo porque não gosto de beber, só isso. Não tenho nada contra quem bebe, desde que não faça mal a outras pessoas.

Mas por não beber com os “camaras” minha amizade tem sido questionada. Todo fim de semana saímos juntos e eles bebem e todos tem que beber pra provar que se amam (daí vem o termo amigo, aquele que ama). E a amizade, pra esse grupo, se resume a isso: Se bebe é amigo, se não bebe não é.



Essa simplificação do conceito de relacionamento me parece bastante perigosa, mas bem comum hoje em dia. O caráter utilista das relações, do qual já tratei em outro artigo, exige que o tempo todo estejamos avaliando nossas relações, qualquer que seja sua natureza, para sabermos se não estamos “ficando por baixo”, se não estamos dando mais do que recebendo. É triste, mas será que realmente é errado ?

Confesso que por muito tempo, devido à minha formação digamos “humanista”, fui avesso a essa abordagem fria e racional das relações. Quem me conhece a mais tempo sabe que sou bastante impulsivo, sanguíneo, temperamental, enfim, marcas da bi-polaridade. Sempre coloquei os sentimentos à frente da razão, e sempre paguei por isso.

Mas hoje, em face dos últimos acontecimentos, tenho tentado reler essa minha postura diante dos amores. Talvez, e veja que eu disse talvez, o amor incondicional seja realmente um erro. Pra mim amor incondicional sempre foi um pleonasmo, uma licença poética. Por isso confesso que me dá até uma dor no peito dizer uma coisa dessas, mas talvez eu estivesse enganado a vida toda. Talvez seja preciso fé cega e pé atras. 

Será !?

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