segunda-feira, 9 de abril de 2012

O FIM DA HISTÓRIA por Alejandro Carriles


Eu nunca sei quando as estórias acabam. 
Por isso eu sempre fico preso entre uma e outra, 
ou entre nenhuma e nenhuma outra; 
entre um recomeço sem fim e um fim sem término.

Talvez por ser mais espectador, ou coadjuvante, 
do que protagonista da minha vida, 
eu tenha essa enfermidade de não dar conta 
de quando baixa o pano.

As luzes apagam, o público sai, 
os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá: 
com a fala na cabeça, o texto decorado, orgânico, aguardando... 
Aguardando a deixa que nunca vem.

Eu sempre tive medo das coisas e das pessoas. 
Um pavor e uma falta de fé. 
Talvez por isso eu tenha criado 
minha própria companhia teatral, 
onde sou diretor; contra-regra; ator; público.

Enceno só para mim uma tragicomédia.

A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco 
que eu fico no fundo do palco, muitas vezes, 
a sussurrar o texto a mim mesmo.

Às vezes eu não ouço. Quase sempre não ouço, 
porque eu sussurro baixo e minha voz é trêmula...

O público não entende a peça, logo, não aplaude. 
Eu, furioso, demito a todos: 
demito ao autor; ao diretor; aos atores...

Eu expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo.

E ali dentro, aqui assim, eu fico dentro, fico eu... 
Eu, junto às cortinas e aos holofotes, 
aos holofotes incandescentes; 
queimando, queimando... 
Queimando!

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