Eu nunca sei quando as estórias acabam.
Por isso eu sempre fico preso entre uma e outra,
ou entre nenhuma e nenhuma outra;
entre um recomeço sem fim e um fim sem término.
Talvez por ser mais espectador, ou coadjuvante,
do que protagonista da minha vida,
eu tenha essa enfermidade de não dar conta
de quando baixa o pano.
As luzes apagam, o público sai,
os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá:
com a fala na cabeça, o texto decorado, orgânico, aguardando...
Aguardando a deixa que nunca vem.
Eu sempre tive medo das coisas e das pessoas.
Um pavor e uma falta de fé.
Talvez por isso eu tenha criado
minha própria companhia teatral,
onde sou diretor; contra-regra; ator; público.
Enceno só para mim uma tragicomédia.
A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco
que eu fico no fundo do palco, muitas vezes,
a sussurrar o texto a mim mesmo.
Às vezes eu não ouço. Quase sempre não ouço,
porque eu sussurro baixo e minha voz é trêmula...
O público não entende a peça, logo, não aplaude.
Eu, furioso, demito a todos:
demito ao autor; ao diretor; aos atores...
Eu expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo.
E ali dentro, aqui assim, eu fico dentro, fico eu...
Eu, junto às cortinas e aos holofotes,
aos holofotes incandescentes;
queimando, queimando...
Queimando!
Nenhum comentário:
Postar um comentário