domingo, 3 de junho de 2012

O Muro


por Marcos Daniel

Existe um tempo, e é bem esse agora, em que o ser humano, consciente de sua condição de ser humano, tem que tomar decisões sobre seu grande futuro. (...)

Eu por exemplo cheguei a um muro que representa um grande dilema a ser interpretado e resolvido. Devo saltar o muro ou andar à sua margem até o fim ?

Qual seja. Percebo que, se quiser estabelecer um novo relacionamento-mais-profundo-com-alguém (e quero, na verdade preciso), terei que me tornar uma pessoa que eu não sou. Uma pessoa melhor, por certo, mas uma pessoa que eu não sou. Artificial, coberta de massa corrida, caiada, engessada.

Preciso falar que isso tudo me ocorre no exato momento em que, tempo nublado aqui dentro e lá fora, estendo roupas num varal improvisado dentro do meu quarto. E se “ela” (personagem fictício) acontecesse agora, que coisa reprovável seria. Essas cuecas e meias pendendo de um cadarço branco e azul que atravessa minha caverna obliquamente, à altura da minha cabeça, qual bandeiras de são joão.

Mas esse sou eu. Evidentemente que esse é apenas um exemplo, uma variável entre milhares de outras variáveis reprováveis socialmente, fisiológicamente, esteticamente e comercialmente (que é, hoje em dia, a variável mais tônica nesse concorrido mercado dos relacionamentos-mais-profundos-com-alguém).

O muro tem, do outro lado, a tal felicidade, incógnita e escura. Ouço risos – gargalhos esporádicos -  nesse desconhecido e desconfortável breu. Aqui, do lado de cá do muro, nada acontece. Olho pra um lado, muro e calçada. Olho pro outro lado, calçada e muro. Cimento e nada. O seguro nada. O estável nada. O sincero nada. O claro nada. O meu nada. Nada demais acontece.

Acontece que sei que, para pular o muro e tomar de assalto a tal felicidade, desejo-lugar-comum de que tanto falam os demais seres humanos, eu terei que abrir mão de muita coisa, muitas coisas, que me fazem eu, me qualificam (ou desqualificam), que me quantificam (ou me subtraem), mas que me significam, me explicam, me complicam e me fazem ser essa pessoa caótica e multi-polar que sou agora, ou q era um segundo atrás porque agora já mudei... mudei de novo agora. Viu só... que massa.

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