terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Dias comuns


por Natália Spinacé




O despertador toca. Mas já? Não é possível… É possível. Levanta, toma café, escova os dentes. Volta um pouco pra cama, enrola. Se não passar protetor e corretivo, pode ficar mais 2 mim deitada. Ok, levanta logo e vai passar o protetor. Pega a bolsa, o celular, e o guarda chuva. Ponto de ônibus. As mesmas pessoas de sempre, esperando os mesmos ônibus, para irem aos mesmos lugares. Desce do ônibus, caminha dois quarteirões. Pega o elevador com as mesmas pessoas de sempre. Computador. Facebook. Email. Facebook de novo. Precisa começar a fazer alguma coisa. Facebook mais uma vez. Agora vai. Responde email, liga, lê, anota. Almoço. Pega a bandeja, reclama da comida, fala do trabalho, fala da vida. Volta para o computador. Enrola. Toma coragem. Responde, liga, lê, anota. Pensa o que vai fazer no carnaval. Pensa que precisa voltar a malhar. Pensa que precisa marcar de ver os amigos da faculdade. Hora de ir embora. Ponto de ônibus. Mesmas pessoas de sempre, mesma conversa de sempre. Chega em casa. Mãe, pai, janta. Quarto da irmã, cama da irmã, conversas sem fim. Banho, novela, telefone, cama. Pensa que a vida às vezes pode ser bem injusta. Pensa que tem sorte, mas que ninguém está livre do inesperado, do errado, do injusto. Agradece pelo dia comum, porque sabe que muita gente lá fora só queria mais um dia comum, e não pôde ter.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Eu apenas queria que você soubesse

Gonzaguinha

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo, presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto, flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer 
a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar 
é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

a a a

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A vida

Texto apócrifo baseado no
original de Mário Quintana


A vida são deveres que nós
trouxemos para fazer em casa

Quando se vê, já são seis horas...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê já terminou o ano...
Quando se vê, não sabemos mais 
por onde andam nossos amigos...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida...
Quando se vê, passaram-se 50 anos...

Agora, é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, uma oportunidade, 
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, 
pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Seguraria todos os meus amigos, 
que já não sei onde e como estão, e diria:
- Vocês são extremamente importantes para mim.

Seguraria o meu amor, que está, há muito, 
à minha frente, e diria: - Eu te amo.

Dessa forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta 
devido à falta de tempo.

Não deixe de ter alguém ao seu lado, 
ou de fazer algo, por puro medo de ser feliz, 
pois a única falta que terá,
será desse tempo que infelizmente 
não voltará mais.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Memórias

por Marcos Daniel




          Sei que essa carta, se chegar às suas mãos, pegara você de surpresa. Faz tantos anos que não temos notícias um do outro. Posso tentar justificar minha repentina aparição nas muitas coisas que têm acontecido na minha vida, fatos esses que preciso compartilhar com alguém - preciso muito. Mas todos os “alguéns” se foram, e eu acabei ficando aqui, sem ninguém. Isso não seria problema não fosse por essa necessidade urgente de falar acerca dos últimos acontecimentos. Eu acho que quem esta sem ninguém já é ele próprio o ninguém dos “alguéns” que partiram. É sobre isso que quero falar também. Sobre esse ninguém que eu sou agora, e sobre o alguém que eu já fui, pra você e pros demais “alguéns” que também se foram. O tempo é força poderosa que empurra tudo para o passado, e tão importante quanto ter histórias pra contar é ter para quem contá-las. Então prepare um chazinho quente, calce suas meias coloridas e abra seu generoso coração. 

Por onde devo começar !? Você ainda gosta de morangos ?


domingo, 6 de janeiro de 2013

Silêncio

por Marcos Daniel


- Ela escolheu o silêncio quando poderia ter falado. Um sussurro, um miado, um grito, sei lá, qualquer coisa teria feito diferença. (Pausa) Ela deveria ter gritado, não é !? (Pausa) Eu teria gritado !

- Se ela deveria eu não sei. O silêncio nem sempre é uma escolha... consciente. Ela até poderia ter gritado mas, sinceramente... eu não acredito que ia adiantar muita coisa. (Pausa) Ouça bem meu amigo, uma coisa que eu aprendi com a vida é que o silêncio é uma forma de grito, então se você não é capaz de ouvir o silêncio de alguém, com certeza será incapaz de ouvir os gritos também. É isso que eu acho. Entendeu !?

- Humm. Acho que sim...

Uma Delicada Forma de Calor

Excelente canção de
Lobão / Zeca Baleiro
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Eu me lembro de você ter falado
alguma coisa sobre mim e, llogo hoje, 
tudo isso vem à tona e me parece 
cair como uma luva

Agora - num dia em que eu choro -
Eu tô chovendo muito mais do que lá fora
Lá fora é só água caindo
Enquanto aqui dentro, cai a chuva

E quanto ao que você me disse eu me lembro 
sorrindo, Vendo você tão séria
Tentar me enquadrar, se sou isso
ou se sou aquilo e acabar indignada, 
me achando totalmente impossível
E talvez seja apenas isso:
Chovendo por dentro
Impossível por fora

Eu me lembro de você 
descontrolada tentando se explicar
Como é que a gente pode ser 
tanta coisa indefinível, 
tanta coisa diferente
sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada e que o talvez 
torne a vida um pouco mais atraente ?

E talvez, a chuva, o cinza, o medo, 
a vida, sejam como eu ou talvez , 
porque você esteja de repente, 
assistindo muita televisão.

E como um deus que não se vence nunca
O seu olhar não consegue perceber
Como uma chuva, uma tristeza, 
podem ser uma beleza e o frio, 
uma delicada forma de calor